O salão de beleza Cubo, de Porto Alegre, abriu espaço para exposições de arte este ano. Em novembro, o projeto Cubo Gallery recebe, a partir do dia 24, a exposição fotográfica MOJUBÁ – A PRESENÇA DOS ORIXÁS NA BAHIA, de Liege Ferreira.
Sobre a exposição, por Liege:
MOJUBÁ ‐ A PRESENÇA DOS ORIXÁS NA BAHIA
“No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras. Conta‐se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu imaculado do Orixá fora desonrado. O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum. Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira e com a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra. Assim, o Orum separou‐se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida. E os orixás também não podiam vir à Terra. Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados. Isolados dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram. Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados. Foram queixar‐se com Olódùmarè, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra. Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.”
A história do Brasil começou na Bahia. A partir de 1538 começam a aportar os primeiros de muitos navios negreiros vindos da África. Negros de diferentes partes do continente africano chegavam em Salvador para serem escravizados pelos portugueses e pela classe dominante que estava se formando. Foram mais de 300 anos de escravidão. Os negros trouxeram junto com eles seus conhecimentos, sua cultura, seu dialeto, seus cantos e sua religião. Com eles, veio o culto aos orixás. Bom, até aí quase todos nós sabemos, mas mesmo assim, na maioria das vezes parece ser uma cultura tão distante, provavelmente por ter sido uma religião velada e proibida durante tanto tempo.
O candomblé afro‐brasileiro se distingue em três nações, Ketu, Angola e Jeje. O Axé, do Yorùbá Àse, é a energia vital, o poder, a força mágica distribuída a todos os filhos nas festas de candomblé, onde os orixás, considerados deuses, descem à terra para dançar e distribuir o axé. Os orixás recebem oferendas, auxiliam seus filhos e descem à terra através deles. Os médiuns são chamados cavalos de santo. Cada orixá têm individuais personalidades, habilidades e preferências rituais específicas. Cada um tem seus cânticos, chamados orikis, suas cores, roupas, trejeitos, comidas, danças, etc. Cada cerimônia, casa e nação tem suas particularidades.
No candomblé Ketu, as cerimônias iniciam com o Padê, despacho a Exú, mensageiro entre os orixás e os homens. Os atabaques começam a tocar, os cânticos em yorubá são entoados e os orixás começam a dançar. No final das cerimônias um banquete é distribuído a todos os filhos no terreiro. A ancestralidade, a alegria, o respeito e a força imperam nas cerimônias de candomblé. Durante todo o processo de documentar as cerimônias eu pude fazer parte dessa grande família que é o candomblé. Desde o primeiro dia no Terreiro Ilê Axé Rundemin fui recebida com muito carinho por todos. Sempre receptivos, alegres e dispostos a responder minhas dúvidas. Tento trazer nessa exposição um pouco desse universo mágico do candomblé, do ritual, dos orixás e dessa vivência que tive em quase um ano de Bahia. Além das fotografias feitas no terreiro em Salvador, fiz fotos durante as comemorações de Yemanjá, rainha do mar, em uma praia da Bahia chamada Sítio do Conde. Axé!
Serviço:
Exposição MOJUBÁ ‐ A PRESENÇA DOS ORIXÁS NA BAHIA, de Liege Ferreira
Local: Cubo – Av. Cristóvao Colombo, 3000 – 9o andar
Data: a partir de 24/11
Horário de visitação: de seg. a sábado, das 8h às 21h